Repetição de mantras - Há algo mais do que pensamentos.

Publicado em 21/Abr/2014, por Izabel Donalisio

“A base para a meditação é o relaxamento e a concentração, e a prática da repetição de mantras cria essa base. Somente a parte física dos efeitos dessa prática pode ser descrita com palavras, pois não é possível descrever a Graça. A repetição de mantras tem como objetivo maior estabelecer a comunhão que permite que você seja tocado pela Graça, embora você não deva desejar por isso enquanto estiver realizando sua prática. Todo o desejo deve ser abandonado, e sua consciência deve estar completamente focada no momento presente, simplesmente repetindo o mantra.” Sri Prem Baba

Prem Baba: O mantra é um poder que está além dos domínios de Mahamaya; além dos domínios de prakriti, e são como cordas que o Reino Celestial jogou para que possamos nos segurar e escapar. Escapar dessa identificação com a matéria. Que é a identificação com a mente. A mente deve estar a serviço do Ser, assim como a matéria deve estar a serviço do Ser. O que possibilita termos esse domínio sobre a matéria é o domínio sobre a mente, porque a mente é a ponte de conexão com o mundo dos fenômenos. Os principais instrumentos da mente, que são os pontos de conexão com o mundo dos fenômenos, são os cinco sentidos. O mantra é um poder que nos coloca além dos sentidos. Ele nos dá a chance de termos domínio sobre a mente. Quando você se entrega para a experiência do mantra, você entra neste estado que está além do tempo psicológico; entra neste lugar que está além da mente. Quando você tem a chance de cantar com o coração, você tem também uma chance de viver essa experiência do arrebatamento que é estar além do tempo e do espaço; além dos domínios da mente e de seu principal regente que é o ego.

Mantras são palavras de poder, e esse poder está além do significado da palavra. Existe um poder do fonema. O som gera uma vibração que ativa determinadas áreas do cérebro e também do seu sistema energético, através do fenômeno da ressonância sonora, o que abre portas dentro de você nas quais raios do Ser acabam podendo se manifestar. Os mantras são pérolas das profundezas. São heranças que recebemos dos antigos Rishis, dos antigos sábios que receberam esses dos Reinos Celestiais para poder servir de ponte para a libertação.

O Guru Mantra tem uma ação um pouco diferenciada. O Guru Mantra é uma transmissão feita pela boca do Guru e então, além do poder físico do mantra, ele é também uma ponte para a Graça do Guru. O Guru Mantra aos poucos vai te fazendo se aprofundar nesse mistério que é o Guru. Esse mistério que é a relação Guru-Discípulo, porque para o homem comum (o homem comum é o homem que tem a consciência adormecida; que tem consciência tomada pelo esquecimento) é muito difícil compreender o que é o Guru, e até mesmo o que é o discípulo. O homem que está identificado com a mente não tem acesso a essa compreensão, porque é um fenômeno totalmente espiritual. É possível até dizer que o Guru é um poder que te tira da escuridão e te coloca na luz, mas ainda assim é somente uma referência. Você só pode compreender esse fenômeno espiritual se aproximando dele. E para se aproximar dele você tem que estar suficientemente maduro e o mantra promove esse amadurecimento.

Quando você tem um vislumbre da verdade, tem um vislumbre até do próprio Guru e da jornada iniciática, então você recebe a iniciação espiritual, recebe um mantra e aí você inicia um processo de amadurecimento. Porque independentemente do quanto você já tenha caminhado aqui nesta terra, você descobre que esse processo de expansão é infinito. A iluminação é infinita. Iluminação é um esquecimento do corpo e da mente. E nesse caso esquecimento é sinônimo de desidentificação.

Essa lembrança de si mesmo é infinita. Sempre há espaço para perdoar mais e mais, sempre há espaço para amar mais e mais. Independentemente de onde você esteja, o Guru Mantra vai te amadurecendo, porque ele te alinha com essa frequência de luz que é o que te tira deste estado de amortecimento e te eleva para os estados supramentais. O Guru é esse poder que te eleva para os estados supramentais. Isso está claramente descrito nos livros sagrados. Essa é a essência do Sanatanadharma que é o caminho da iluminação, o caminho da religião eterna. A essência do caminho é a relação Guru-discípulo. É o Parampara, a sucessão mestre-discípulo. Essa é a segurança do processo para evitar que o ego se aproprie das verdades maiores, para evitar que a ponte seja quebrada. É essa tradição que mantém a ponte.

Então o Guru- mantra é a única coisa que você tem. É a única ferramenta que você tem para cavar o túnel e escapar da prisão. No que diz respeito à parte física do mantra, sim, ele desenvolve concentração, promove um centramento que é essencial, como tenho dito, é a base da meditação.

A base da meditação é o relaxamento e a concentração. E a prática do japa te dá esta base, mas essa é somente uma parte dos efeitos do Guru-mantra. Posso até dizer que esta é a parte material, a parte física dos efeitos, porque a parte espiritual não pode ser descrita com palavras. A Graça não pode ser descrita através das palavras. O objetivo maior é estabelecer essa comunhão que permite que você seja tocado pela Graça, embora você não deva desejar por isso enquanto está fazendo sua prática de japa. Todo o desejo deve ser abandonado, e a sua consciência deve estar completamente focada no momento presente, simplesmente repetindo o mantra.

E aí surgem algumas dúvidas a respeito do tempo dedicado a esta prática. Eu tenho sugerido uma hora por dia, mas também tenho sugerido a prática de focalização no vazio que é uma técnica que prepara o campo para a meditação. Eu prefiro não chamar de meditação, porque a meditação em si é também um fenômeno que você não domina. A meditação é quando você é tomado pela Graça e a mente para. A respiração fica sutil como um pequeno fio, só mantém o corpo vivo, e você tem acesso aos Reinos Superiores dentro de você mesmo. Muitas pessoas se dedicam a criar condições para que a meditação aconteça. Muitos se dedicam a diferentes técnicas, mas muitos não tiveram a Graça de entrar em meditação. Porém com a constante dedicação, em algum momento isso acontecerá, como eu tenho dito, o nosso trabalho é plantar sementes. Não podemos determinar quando as sementes vão brotar, dar flores e frutos.

Eu tenho sugerido que você possa começar dando aquilo que você pode; dando aquilo que você tem. Que quem está nas fases preliminares da jornada desse 5 minutos, 10 minutos ou 15 minutos para a prática da meditação ou melhor dizendo, da prática do silêncio. Porém, aquele que já amadureceu o suficiente para se comprometer com o sadhana a ponto de receber diksha, eu tenho sugerido que você possa dedicar ao menos uma hora para isso. Essa uma hora deve ser para a prática do japa. E aí depois deste tempo de japa, você pode ficar quanto tempo quiser cultivando o silêncio, focando no vazio da forma como já ensinei anteriormente. Durante o retiro eu disse que o ideal mesmo seria que você pudesse evoluir gradualmente até que pudesse oferecer duas horas por dia para o seu sadhana. Aí sim seria uma hora de japa e uma hora de cultivo do silêncio, que pode ser dividido em uma hora de manhã e uma hora à noite. Meia hora para o japa e meia hora para o silêncio, tanto de manhã como à noite. Mas se você não pode dar duas horas, mas sim uma hora, eu tenho sugerido que você faça meia hora de manhã e à noite, e então você foca nessa uma hora dividida em dois períodos de trinta minutos. Você foca no japa, porque o japa vai criando a base, criando a concentração e essa ponte com o Guru, e vai aos poucos, abrindo espaço para o silêncio. Quanto mais tempo você tiver para dedicar para o sadhana, melhor para você.

E obviamente que independentemente destas uma ou duas horas por dia de sadhana, todo o seu dia pode ser transformado em um sadhana, quando a sua atividade no mundo é transformada em serviço. Quando cada minuto de ação é transformado em oração, e então nesse sentido a sua vida se transforma no Yoga. Toda ação deve estar unida a Deus. Toda a ação pode estar permeada de presença. Isso é possível quando você se colocar total em cada ação. É assim que você transforma cada atividade numa oração, claro que com a intenção de oferecer essa ação ao Supremo. A sua atividade se transforma em um puja. Aos poucos você vai indo além dos interesses pessoais; além das motivações egoístas, vai realmente se entregando para o serviço.

Esse tema da renúncia dos frutos das ações é tão misterioso quanto à relação Guru-discípulo. Porque a mente tenta entender, mas não é tão fácil entender, e a única forma de você receber a visita da Sagrada Compreensão é movendo-se em direção àquilo, mesmo correndo o risco de errar, e como falamos há pouco, você precisa se dar o direito de errar, até que você possa achar o caminho correto. Assim é que vamos criando condições para a expansão da consciência. Criando condições para pavimentar as vias de acesso à fonte eterna que nos habita; eterna fonte de amor. Porque o conhecimento por mais fundamental e necessário que ele seja, não é suficiente. Chega um momento em que você percebe que por mais que você já tenha entendido toda a mecânica dos padrões destrutivos, e todo este conhecimento tenha promovido transformações, você ainda se percebe limitado, porque é verdade que há determinadas camadas que encobrem o coração que são somente dissolvidas pela Graça de Deus. Isso é assim para que você possa voltar para Ele, porque se fosse diferente você adquiriria poder e continuaria na matéria, não seria possível voltar para a Morada Sagrada. Então, em algum momento você precisa voltar para a casa, e para voltar para casa você tem que pegar o caminho certo. Você tem que trilhar o dharma. Em algum momento você precisa se voltar para Deus; voltar para a espiritualidade.

Parece que um dos grandes mistérios desta vida é você sentir essa guiança. A guiança que se manifesta na forma da intuição, que se revela na sincronicidade, que se revela nos sonhos. Essa guiança é que ilumina a sua fé, a sua confiança, e que dissolve esse sentimento tão profundo de solidão. Porque ela te faz se sentir pertencendo. É tão fino o fio que nos conecta com essa guiança, tão sutil, um fio de cristal e deve ser protegido. Eu sinto que isso é tudo nesse mundo; tudo.

O Guru não olha se você é rico ou se você é pobre. Não olha a sua raça. Não olha se você tem maus hábitos ou bons hábitos. Não olha nem mesmo se você é homem ou se você é mulher. Ele olha para a alma. Ele trabalha para que ela se expanda. Ele ensina o caminho para você realizar a grande meta. Eu diria que até mais do que mostrar o caminho, ele te coloca no caminho. Então, o Guru Mantra é esse instrumento que faz a conexão com esse poder. É realmente algo valioso e significativo.

O Maharaji disse certa vez que chegou sozinho aqui em 1965, e ficou trabalhando sozinho até que as pessoas foram chegando. E hoje milhares de pessoas encontram a vida espiritual através do Sachcha Dham. Ele disse: a cada ano que você vem e passa alguns dias aqui, você vai se purificando e vai se santificando. Muitos têm medo desta palavra, por conta das distorções que fizeram. Santo significa pureza. Um santo é aquele que tem um coração puro. E o Maharaji está trabalhando para que você tenha um coração puro. Para que você seja inocente e simples como uma criança. Que possa amar a todos e servir a todos. A vida dele é o exemplo. Ele sacrificou a vida pessoal para poder servir a todos.

Quando você tem um coração completamente puro você não ama somente uma pessoa, você ama a todos. O sol brilha para todos. O sol não distingue quem ele vai iluminar. O Guru é como um fogo de uma fogueira. Você quer se aquecer no fogo? Se sim, você tem que chegar perto da fogueira. Isso você faz dentro de você. Você tem que estabelecer essa conexão no coração. Quando esta conexão se estabelece mesmo, você não cai mais. Você pode balançar, mas você não cai. Eu lhe garanto isso. Provações todos passam. Isso é comum neste mundo. Isso é só para aumentar a sua fé e o seu amor. Para aumentar o seu perdão e a sua luz. Até que você possa dizer com verdade: “Ainda que eu ande no vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque Tu estás comigo”.

O Santo usa a palavra como um sacrifício, porque ele sabe que muitas vezes o buscador não sabe compreender o silêncio, mas o trabalho de um Santo é muito prático: Ele te dá um prasad, um docinho, e você se transforma. Ele te olha e você se transforma. Com o olhar ele ativa o quem tem que ativar e transforma o que tem que transformar. É assim que o Maharaji trabalha.

Muitas vezes para transformar o que tem que ser transformado, a sombra precisa ser precipitada. Você não pode entrar no céu carregando sentimentos negativos. Isso precisa ser purificado, e às vezes para purificar, precisa ativar. Então, não tema esse processo de cura. Não se assuste com essas limpezas. É necessário. Firme-se no seu Guru Mantra. Firme-se na prática do cultivo do silêncio e deixe vir o que tiver que vir. Só observe e deixe passar. Observe e deixe passar. Coloque foco na sua conexão. Tudo o que você precisa, chega.

Vocês viajam de tão longe para vir até aqui. Submetem-se às vezes a condições bem desafiadoras para o seu corpo, para os seus hábitos, porque você está procurando por algo. Eu rezo para o Maharaji, rezo para a fonte eterna de Sachcha, para que você receba alguma coisa. Eu sei que Ele vai me atender. Eu rezo: “Eles chegaram até aqui, chegaram até a sua porta. O que mais eles podem fazer? Abra a porta para eles”. Assim que eu aprendi a trabalhar nesta linhagem.

Devagarinho você aprende a não se entregar mais para o medo e nem para o ódio. Devagar. Se você quiser receber um prasad eu vou te dar. Venha só se você quiser.

Eu tenho uma instrução sobre esse prasad, que é um doce. Muitas vezes você pega este doce, mas você não quer comer doce, não quer comer açúcar. Então, coma um pedacinho, mas não jogue fora o resto, dá para alguém que esteja precisando, porque não é o doce; não é a matéria que é o mais importante, o mais importante é a Graça. Nós já estamos tentando resolver isso criando condições de termos doces saudáveis. Há pessoas providenciando isso, já tem fornecedor, está tudo bem encaminhado. Logo, logo nos alinhamos com isso também. Mas, a graça do guru transforma o veneno em néctar.

Abençoado seja cada um de vocês. Que a Graça do Guru possa iluminar o seu caminho.

Até o nosso próximo encontro.

NAMASTE.

Satsangs


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